A enxaqueca, uma dor intensa e latejante na cabeça, pode ser incapacitante para pessoas que sofrem com crises frequentes. O quadro geralmente está relacionado a sintomas como náusea e vômitos, desconforto à exposição à luz e a som intensos. Uma crise pode durar até 72h, aponta Niedja Maria Curti Bento, nutróloga e gerente médica da Casa de Saúde São José (RJ).
A médica diz que pessoas que sofrem de enxaqueca com alguma frequência já sabem reconhecer sua aura —sintomas como sensibilidade à luz e sensação de cabeça pesada, que anunciam que uma crise está por vir.
O quadro pode se intensificar quando há estresse, poucas horas de sono, baixa ingestão de água e falta de atividade física —ou atividade muito intensa.
As causas exatas da enxaqueca ainda não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que vários fatores desempenham um papel. “Isso inclui genética, alterações nos neurotransmissores e a sensibilidade a certos estímulos, como a alimentação”, indica Isolda Prado, médica nutróloga da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e professora de nutrologia da UEA (Universidade do Estado do Amazonas).
“Sabemos que há uma conexão direta e forte entre o cérebro e o intestino —por isso, inclusive, este é chamado de segundo cérebro. Nele existem milhões de neurônios, mais de 30 neurotransmissores e bactérias que podem se relacionar com a estrutura cerebral”, complementa Bento.
A relação entre alimentação e o quadro doloroso, dizem as médicas, é bastante individualizada.
A cafeína, por exemplo, embora possa desencadear enxaqueca em determinados pacientes, em outros contribui para o alívio da dor. Por isso uma avaliação médica minuciosa e individualizada é fundamental. É recomendável que o paciente faça um diário alimentar para anotar o que comeu quando os sintomas apareceram. Niedja Maria Curti Bento, nutróloga e gerente médica da Casa de Saúde São José (RJ)
Segundo a Association of Migraine Disorders, uma associação norte-americana dedicada ao quadro, para que um alimento seja considerado um desencadeador de enxaqueca, os sintomas devem começar dentro de 24 horas a partir do momento em que ele é consumido, e essa associação deve se repetir em mais da metade das vezes em que o alimento é ingerido.
Por que a alimentação pode influenciar na enxaqueca?
De acordo com a médica Isolda Prado, a alimentação pode influenciar a enxaqueca de várias maneiras. “Alguns alimentos contêm substâncias químicas que podem desencadear uma resposta no cérebro, levando ao desenvolvimento de uma enxaqueca”, diz.
Além disso, segundo Prado, certos alimentos podem causar dilatação dos vasos sanguíneos, liberação de neurotransmissores inflamatórios ou desencadear reações alérgicas que podem contribuir para o quadro.
Como explicado acima, as comidas que causam crises variam de pessoa para pessoa, mas existem alguns alimentos e grupos alimentares comuns associados a esse problema. As especialistas consultadas pelo VivaBem listam quais são:
Alimentos ricos em tiramina
Queijos curados e envelhecidos (como brie, roquefort, gorgonzola, parmesão), carnes defumadas, peixes enlatados, nozes, feijões fermentados e certas frutas como banana e abacate são alguns itens que contêm tiramina, uma substância que pode causar a dilatação dos vasos sanguíneos e desencadear uma enxaqueca em algumas pessoas.
Chocolate
Além de tiramina, contém feniletilamina, substância que pode desencadear enxaqueca em algumas pessoas sensíveis.
Bebidas alcoólicas
Especialmente vinho tinto, cerveja e champanhe, que contêm álcool e histamina, podem causar crises devido às suas propriedades vasoativas e neuroinflamatórias.
Cafeína
Embora a cafeína possa ajudar a aliviar a dor de cabeça em algumas pessoas, o consumo excessivo ou a retirada abrupta de cafeína pode desencadear enxaqueca em outras.
Aditivos alimentares
Alguns aditivos alimentares, nitratos e nitritos (encontrados em carnes processadas), também são observados como possíveis causadores de crises.
Alimentos que contêm glúten
Trigo, centeio, cevada ou malte, assim como as preparações feitas com estes ingredientes como pães, massas, pizzas, podem causar enxaqueca, especialmente em pessoas com inflamação intestinal, assim como em quem tem síndrome do intestino irritável, doença celíaca e sensibilidade não celíaca ao glúten.
A médica Kelly Moraes Cangussú, pós-graduada em nutrologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, aponta que manter uma alimentação saudável diminui os riscos de crises de enxaqueca.
As melhores opções para esses pacientes são as comidas de verdade: carnes magras e não processadas como peixe e frango orgânico, oleaginosas, azeite de oliva extravirgem, leguminosas, pão de fermentação natural, cereais integrais, iogurtes naturais, todos os legumes, verduras e frutas. Na dúvida, sempre lembre-se disso: comida de verdade não tem ingredientes, ela é o ingrediente.
Kelly Moraes Cangussú, pós-graduada em nutrologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein
Fonte: Vive Bem/UOL