Setores menos afetados por juros ou que reagem após alívio na pandemia, como saúde e educação, vão garantir crescimento
A conta é a da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim de Macroeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV): quase dois quintos do PIB brasileiro vão crescer em 2022. O grupo reúne segmentos que já vêm crescendo (agropecuária, petróleo e minério) e setores menos afetados por alta de juros e ciclos econômicos, como saúde e educação pública e privada.
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Também integram as aéreas que impulsionarão a economia ano que vem as que tiveram expansão graças aos efeitos da crise sanitária e do pós-pandemia, como tecnologia da informação e serviços a família
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Essa fatia de 38% do PIB, que representam R$ 2,8 trilhões descontados os impostos, vão crescer 1,3%, impedindo que a economia do país afunde abaixo de zero neste ano.
Diante do comportamento heterogêneo da economia, Silvia diz que é exagero pensar em recessão, ainda que indústria e comércio tenham resultados ruins, devido à alta de juros e inflação. Mas o PIB deve avançar menos de 1.
Os investimentos serão outro vetor de dinamismo. O Bradesco, que monitora os anúncios das empresas, calcula em R$ 766,9 bilhões o total de investimentos divulgados pelas companhias brasileiras nos últimos 12 meses até novembro — patamar que veio crescendo ao longo de 2022.
Segundo Fabiana D’Artri, economista do Bradesco, o número de anúncios aumentou e se difundiu pelos setores.
— São grandes aportes com capacidade de derivar outros investimentos, como no setor de commodities, que vai se desdobrar em serviços a serem demandado
Estoques regularizado
Para atender a demanda reprimida pela pandemia, a Ser Educacional está pronta para abrir dez unidades em 2022, um investimento de R$ 140 milhões, também dirigido a bibliotecas, tecnologia e produção de conteúdo. A rede chega a 320 mil alunos com a incorporação da Fael, grupo voltado para o ensino a distância, adquirida em março de 2021.
— Estamos bem confiantes, será o primeiro ano de normalização de aulas pós-pandemia. As pessoas postergaram projetos, existe uma demanda reprimida que pretendemos atender. Para o ano que vem (2022) há um trabalho para remodelar o ensino com as novas tendências surgidas na pandemia — afirma o presidente da Ser Educacional, Jânyo Dini.
Ele continua
— Fizemos mais de R$ 1 bilhão de aquisições, comprando faculdade de medicina, edtech, a Fael. Somos uma empresa mais preparada para a nova etapa do ensino.
E a tecnologia da informação continua brilhando. Segundo Silvia, é um setor que vem avançando desde 2012, sempre acima do PIB, e foi beneficiado pela necessidade de digitalização rápida da economia durante a pandemia. Se repetir a média desde 2012, deve crescer perto de 2%.
Até mesmo a indústria está prevendo que a normalização crescente dos estoques e do fornecimento das cadeias produtivas globais vai beneficiar setores de veículos, máquinas e equipamentos e construção civil. Em 2021, a falta de insumos passou à frente do sistema tributário nas queixas.
— Para tirar o sistema tributário do topo é um problema muito sério para indústria. Essa normalização (das cadeias globais) tem papel importante para indústria — diz o gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo.
Investimento público
A confederação prevê alta de 1,2% do PIB em 2022, com a indústria crescendo 0,5%, num movimento concentrado no segundo semestre, quando se espera que a inflação tenha aliviado o custo das empresas e o bolso das famílias. Para Azevedo, os serviços serão os principais responsáveis pela alta projetada:
— Há muito espaço para os serviços voltados às famílias crescerem. Há um consumo represado, que vai sustentar algum crescimento.
Nesse grupo de serviços estão restaurantes, hotéis, salões de beleza. O movimento está voltando aos poucos e, se a variante Ômicron não se espalhar no Brasil como está ocorreu em outros países, o que poderia levar a mais medidas de distanciamento social, espera-se alta no faturamento desses segmentos.
É o que prevê Sálua Bueno, sócia de rede de bistrôs no Rio. Ela planeja abrir oito restaurantes Amélie Crêperie et Bistrot e Juliette Bistrô Art Déco, levando a rede para São Paulo e Belo Horizonte:
— Antes da pandemia, tínhamos três lojas próprias e a formatação para crescer na franquia. Com a pandemia e a crise no setor imobiliário, conseguimos um ponto maravilhoso na Garcia D’Ávila (rua nobre da Zona Sul do Rio). O ano foi uma montanha-russa, mas usamos delivery e conseguimos nos manter.
Sálua diz que, a cada loja nova, há entre dez e 12 contratações. Com a expansão da rede e a volta do consumo, a empresária espera faturar 25% mais.
Fabiana, do Bradesco, cita o potencial de expansão de setores regulados, como energia e saneamento, com novos marcos legais, que não acompanham o ciclo econômico:
— É um colchão para outros vetores com a economia fraca.
Investimento público começa a surgir na pesquisa do Bradesco. Com os cofres mais cheios, governos estaduais e municipais anunciam obras.
— Esses anúncios vão virar cimento, emprego em 2022, ainda sob o efeito da taxa de juros mais baixa (do momento em que os investimentos foram anunciados). Já (novos) investimentos podem ser adiados em 2022 e os anúncios (de novos aportes) podem diminuir, com a alta recente de juros — alerta Fabiana.
A instabilidade política, num ano eleitoral que promete ser polarizado e turbulento, não mexe com as decisões de investimento, diz ela:
— O que importa é o custo do capital.
Mais hospitais
A Rede D’Or olha para o perfil demográfico ao investir. Mesmo com inflação e juros altos, a expansão continua em curso em 2022. São 43 projetos em andamento que devem ser concluídos até 2025, acrescentando 6.700 leitos aos 10.600 atuais, explica Octavio Lazcano, vice-presidente financeiro da Rede D’Or.
—Para o início de 2022, vamos entregar a nova torre do Hospital Sino Brasileiro, em Osasco (SP), o Hospital São Rafael, em Salvador, e a expansão do Hospital São Vicente, na Gávea (Rio).
Atualmente, segundo Lazcano, a empresa emprega 55 mil pessoas e deve aumentar em mais 30 mil ao longo dos próximos cinco anos:
— A população brasileira continua a crescer 1 milhão por ano e está envelhecendo rapidamente. Conforme fica mais longeva, serviços médico-hospitalares são mais importantes para sociedade.
Se os setores que passam ao largo de juros e inflação seguem crescendo, o quadro geral poderia ser melhor se não fossem turbulência política e riscos fiscais, diz Silvia, da FGV. Ela prevê alta de 0,7% do PIB em 2022.
Por: conesulacontece
Fonte/Referência: https://www.folhadevilhena.com.br/2022/01/servicos-ti-e-agronegocio-darao-impulso-ao-pib-em-2022/