Tô ruminando desde 9 de janeiro, quando se comemorou o Dia do Fico, o significado de algumas datas comemorativas. Sabem que tem datas comemorando tudo quanto é coisa? De Dia do Obrigado (11 de janeiro) até Dia da Gula (26 de janeiro)! Algumas destinadas a masoquistas, como o 8 de fevereiro, Dia da Penitência. Mas em contraponto pouco depois (14 de fevereiro), o Dia do Amor! E fico cá pensando com meus botões: viva o Dia do Botão (16 de novembro).
Quando fundamos a Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, em 2003, e decidimos comemorar em 31 de outubro o “Dia do Saci e seus amigos”, sabíamos que íamos encarar muitos preconceitos.
Primeiro esclareço: os amigos do Saci são todos os seres mitológicos da cultura brasileira, seja de origem indígena ou não.
Volto ao 31 de outubro. A data foi escolhida de propósito, como contraponto ao raloím (Halloween, para quem prefere). Algumas pessoas achavam que devíamos fazer nossa festa em 22 de agosto, Dia do Folclore, mas isso representaria aceitar a folclorização de nossa cultura.
Por isso, “acusaram” a Sosaci de politizar o Saci, a Iara, o Curupira etc. Verdade. Politizamos sim. Nossa proposta era (e é) questionar a aceitação do imperialismo cultural que nos empurra goela abaixo crenças e costumes que vêm principalmente da gringolândia.
Nas nossas festas fazemos questão de ter muitas brincadeiras, muita música legal (nada de sertanejo universitário, essas coisas), bailados, lançamentos de livros, filmes, peças teatrais, às vezes cinema e, sempre, debates sobre a cultura caipira ou algo relacionado a ela.
Enfim… debatemos e comemoramos nossa cultura. É esse um dos propósitos de termos definido uma data simbólica e, de propósito, repito, coincidente com uma festa símbolo do imperialismo, nada a ver com o Halloween dos povos celtas, mas uma festa que ⸻ como quase tudo que vem dos imperialistas ⸻ visa gerar mais dinheiro para os capitalistas, uma festa comercial.
Na época, tentaram nos ridicularizar, comparando o Dia do Saci, com Dia da Sogra, Dia do Gordo, Dia de qualquer abobrinha como as que citei no início. Mas encaramos todo mundo e mantivemos nossa festa, explicando justamente o seu sentido político num sentido amplo, não partidário, de estudo e defesa da cultura brasileira.
Curioso é que muitos críticos aceitam ou aceitavam como “normal” o Dia do Halloween.
Ter uma data com sentido político, nesse sentido amplo, merece reflexão. Nessas datas com significado real, há levantamento de questões, estudos e tomada de posição em relação ao que elas representam. Por exemplo: no Dia da Água (22 de março), há sempre atividades escolares sobre esse tema, e também muitos artigos de jornais e revistas, entrevistas na TV e no rádio… Muita gente passa a pensar no que a Humanidade vem fazendo com a água, e no Brasil pior ainda. Há alguma cidade em que algum rio foi mantido com muita água e sem poluição? O que fazer? Que futuro nos espera se continuar assim? Que atitude devemos tomar?
O mesmo vale, por exemplo, para datas como 8 de março (Dia da Mulher), 28 de abril (Dia da Caatinga), 27 de maio (Dia Nacional da Mata Atlântica), 5 de setembro (Dia da Amazônia), 11 de setembro (Dia do Cerrado) e 12 de novembro (Dia do Pantanal).
Datas “interessantes”
Bom, fora datas criadas ou estimuladas pelos comerciantes, como Dia dos Namorados, Dia da Mães e até o Natal, que virou data comercial também, há umas datas comemorativas até divertidas, repito, como as que citei no início. Não sei quem propôs nem se são oficializadas, mas gosto de brincar com elas.
A mais recente, que recebi do amigo Fernando Gamberini, é 16 de janeiro, Dia da Comida Picante. Vivam as baianas! Viva a pimenta malagueta!
Aí vai uma lista de datas que vocês não podem deixar de comemorar:
– 31 de julho deve provocar irritação em alguns religiosos… É Dia Mundial do Orgasmo!
– 17 de agosto, eba!, é Dia do Carinho. E para nós mineiros, algo a mais: Dia do Pão-de-queijo.
– 7 de outubro, ói eu comemorando, é Dia dos Calvos. É dos carecas que elas gostam mais!
– 6 de novembro é Dia de Andar sem Bússola (caramba! Quem anda com bússola nos outros dias?).
– 9 de novembro é Dia do Caos – será homenagem ao Brasil atual?
– 22 de setembro… ora, ora… Dia dos Amantes! Gozado que nesta data comemora-se também o Dia da Banana.
– 11 de novembro é para rebolar: Dia do Bambolê
– 12 de novembro é para curar ressaca: Dia da Canja de Galinha
– 20 de março… no Brasil atual, poucos podem comemorar: Dia da Felicidade.
– 9 de julho, se não comemoro o 20 de março, pelo menos me resta este: é Dia do Sonhador!
– E resta para nós, também, o 31 de dezembro: Dia da Esperança.
– 1º de agosto, vejam só: Dia do Esmalte!!!
– 25 de junho… tô de orelha em pé! É dia do Cotonete!
– 14 de novembro é Dia do Trava-Línguas. Deviam “travar” a língua do presidente pra ele parar de falar merda.
– 16 de outubro… ah… que coisa… tô cansado… é Dia do Bicho-preguiça. Ah… vamos aproveitar para comemorar até 7 de novembro, que é o Dia da Preguiça. Emendamos as datas, né? Tá admirado? Pois tem dia pra você tentar explicar isso: 21 de outubro é Dia da Balbuciação!!!
– 7 de dezembro, que data importante! É Dia do Algodão Doce!!! Mas há quem prefira o 9 de outubro: Dia Internacional do Cachorro-quente!!! Bolsonaro deve ter comemorado essa data, pois quando foi aos Estados Unidos teve que comer isso na rua, por não ser aceito em restaurantes. E tem o 25 de agosto: Dia do Miojo (essa é de uma viagem dele ao Japão, lembram-se?).
– 21 de dezembro, tô quebrando a cabeça: é Dia das Palavras Cruzadas.
– 5 de agosto… É Dia da Ostra – quem comemora?
– 13 de novembro parece que foi adotada por esse pessoal que nos quer ver sofrendo. É Dia do Mau-humor!
– 22 de maio, quero comemorar muito: é Dia do Abraço.
– 13 de abril, eba! Comemoremos muito também! É Dia do Beijo
– 29 de outubro… Confinados (já não tanto), afastados da vida mundana, acho que todos nos sentimos homenageados nestes tempos covídicos: Dia do Eremita.
Pra terminar, volto ao 9 de janeiro, Dia do Fico, porque nessa data, em 1822, o então príncipe Pedro I desobedeceu a ordem de voltar para Portugal. Muitos historiadores consideram essa decisão um passo importante para a independência do Brasil. Mas acho que a gente precisa agora é um Dia do Cai Fora, Coisa Ruim! Será que teremos que esperar o 1º de janeiro de 2023?
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum
Fonte/Referência: https://revistaforum.com.br/blogs/blogdomouzar/dia-do-fico-dia-do-saci-e-dia-do-cai-fora-por-mouzar-benedito/